A cerveja e o vinho acompanham a evolução da humanidade e compartilham presença nos nossos copos e taças há muitos séculos. Apesar de algumas polêmicas entre elas, em diversos momentos essas deliciosas bebidas dividem processos produtivos e promovem experiências únicas.
Um desses casos é o da Flanders Red Ale, uma breja de origem belga com características sensoriais que destacam a acidez e nuances frutadas, como um bom vinho tinto. Não é por acaso que esse estilo também é conhecido como “vinho Borgonha da Bélgica“, guardando grandes surpresas para quem tem a oportunidade de experimentá-lo.
Misturando gerações
A Flanders Red Ale surgiu na parte oeste de Flandres, região norte da Bélgica, por iniciativa da cervejaria Rodenbach em 1820, resgatando tradições e técnicas antigas de produção cervejeira.
Nessa mesma região, mas na parte leste, foi originada a Oud Bruin, outro estilo ancestral belga. A principal diferença entre elas é que, enquanto a Oud Bruin é maturada em tanques de aço inoxidável em temperatura ambiente, a Flanders Red Ale é envelhecida em barricas de carvalho por até dois anos.
Esses barris de madeira colaboram com a proliferação de bactérias que reforçam a acidez do líquido, como é o caso do Lactobacillus que é responsável pela produção do ácido lático.
Para balancear toda essa acidez, homogeneizar as brejas e trazer maior complexidade de aromas e sabores, os rótulos deste estilo geralmente são constituídos por misturas de amostras novas com mais antigas – o chamado blend.
Flanders Red Ale é pra quem gosta de acidez
Creio que tenha ficado claro que a Flanders Red Ale é uma cerveja para quem aprecia acidez. Se você gosta dessa “pegada acética” em bebidas, o estilo com certeza proporcionará momentos de prazer. Acidez não é muito a sua? Calma, o estilo não é nenhum vinagre e merece uma chance de ser experimentado.
Ao servir uma Flanders Red Ale é bem possível que você sinta esses toques ácidos antes mesmo de colocá-la na boca. A acidez é encontrada no aroma de moderada a alta intensidade, complementada por notas frutadas remetendo a cereja, ameixa, groselha e laranja.
Os sabores característicos do estilo, além das nuances já aparentes no aroma, podem trazer toques de baunilha e chocolate pela robusta base maltada normalmente usada na produção. A levedura belga pode contribuir com leves, mas perceptíveis, notas condimentadas. O lúpulo definitivamente não ganha destaque, não promovendo sabores nem amargor.
A baixa carbonatação, o corpo médio e o final seco colaboram para que a Flanders Red Ale ofereça uma sensação de boca que lembra o vinho. Essa semelhança é reforçada ainda mais por sua aparência, que pode apresentar coloração vermelha escura (bordô) a marrom-avermelhada e boa limpidez, com formação de espuma branca de média retenção.
O resumo é que uma boa Flanders Red Ale pode ser tão boa ou melhor do que um bom vinho tinto envelhecido. Confesso que toda essa adstringência e acidez nunca foram minhas características preferidas nas cervejas, mas a complexidade desse estilo é surpreendente e vai fazer você buscar o segundo gole ou a segunda garrafa.
As Flanders Red Ales possuem teor alcoólico que pode variar de 4,6% a 6,5% e a temperatura ideal de serviço fica na faixa de 5 ºC a 8 ºC. Os rótulos mais tradicionais do estilo são:
- Cuvée des Jacobins Rouge
- Duchesse de Bourgogne
- Rodenbach Grand Cru
- Vichtenaar Flemish Ale
E fique de olho, por que algumas delas costumam a aparecer no estoque do Clube do Malte!
Cheers!