Após um dia intenso em Bruxelas, com direito à visita na Cantillon e pernadas na Grand Place, nos deparamos com um bar que havia aparecido nas pesquisas prévias da viagem e que eu não saberia pronunciar o nome nem valendo uma caixa da cerveja Deus. Havíamos acabado de tirar uma foto no Manneken Pis – também conhecido como menino mijão – e avistamos um bar com mesas na esquina e pessoas bebendo apoiada em barris. Nas pesquisas o bar não chamou atenção. Na verdade, as fotos me deram medo de beber lá dentro. A decoração parecia assustadora. Mas, ali, ao vivo, o ambiente era super convidativo e descontraído. Além disso, já estávamos bem cansados e a garganta pedia por cerveja. Tínhamos a opção de beber lá fora, mas algo me puxava e dizia que eu precisava conhecer o interior do famoso Poechenellekelder.
Entramos. O ambiente é repleto de quinquilharias e bonecos. Alguns mais comportados, outros assustadores mesmo. Apesar disso, a atmosfera era muito divertida. Aqueles bonecos pareciam te convidar para uma cerveja belga e eu não ousaria contrariar. Acabamos sentando em uma mesa que já estava ocupada por um boneco. Seria uma grande falta de educação o deixar beber sozinho.
Então pedi a carta de cervejas. Que sensação maravilhosa foi abrir aquele folheto. Se eu tivesse um bar, faria uma carta com as mesmas cervejas e porções. Fiquei perdido com as opções, queria todas. Pedi ajuda para meu novo amigo, mas ele preferiu não opinar e ficou calado. Começamos pedindo uma Faro da Brouwerij Lindemans e uma La Guillotine da Huyghe Brewery (a mesma cervejaria que produz a Delirium). Algo que me conquista muito nos bares belgas é que a cerveja sempre vem acompanhada de algum tira gosto leve, mesmo que você não peça. Não sei se é padrão ou se eles não acreditam na capacidade do turista beber e se comportar de estômago vazio. Então, trouxeram as delícias com uma pequena porção de nuts.
Com cerveja no copo, apreciar a decoração do bar ficou muito mais divertido. Vários itens demandavam muitos segundos de raciocínio para entender como foram parar lá. Tinha desde saxofone e barril içado por cabo de aço até caixa de madeira da Orval com garrafa dentro pendurada de cabeça para baixo no teto.
A ideia do pit-stop no bar era um descanso rápido, mas toda aquela decoração merecia mais cerveja. Pedimos então uma St Feuillien Blonde e uma IV Saison da Brasserie de Jandrain- Jandrenouille. Ambas, claro, sensacionais. Para acompanhar, um queijo trapista produzido pela Abadia Notre-Dame de Saint-Remy, a mesma que faz as cervejas Rochefort. Depois destas quatro cervejas, estar no salão do Poechenellekelder com toda aquela parafernalha te dava a dúvida se era mesmo realidade ou estávamos em um ambiente de sonho, onde nem tudo faz sentido.
De saideira, pedimos a Nostradamus, uma quadrupel produzida pela Brasserie Caracole. Naquele momento, degustando essa excelentíssima cerveja, parecia que todos aqueles bonecos haviam criado vida. Podia jurar que estava participando de um longa metragem de personagens animados e nós éramos os atores principais.
Para quem achou que o bar seria macabro, o único arrependimento foi não ter explorado mais a cozinha. Além dos queijos, também servem várias opções de embutidos em tábuas carinhosamente montadas. Ao deixar o Poechenellekelder e voltar às ruas de Bruxelas a impressão foi de retorno à realidade. O único sonho que restou foi o de voltar lá um dia. Até a próxima. Santé!