Vivemos num país de proporções continentais, é natural que cada região deste gigantesco território tenha seus próprios costumes, crenças, movimentos artísticos e culturais. Se olharmos bem de pertinho, podemos perceber que até a língua falada é um tanto diferente. A gente até pode reconhecer o português do Brasil (que já é diferente do português falado em Portugal) na boca de todo mundo, mas o regionalismo constrói quase um dialeto próprio. É assim quando viajamos por estados como Bahia, Ceará, Santa Catarina, Paraná, Rio Grande do Sul e tantos outros lugares. Não seria diferente no nosso destino deste mês. O riquíssimo estado de Minas Gerais.
Minas Gerais recebe esse nome por conta dos bandeirantes que desbravaram o país em busca de ouro. Quando enfim encontraram, houve uma enorme corrida para aquelas terras, causando uma rápida crescida populacional, pessoas vindas de todo lugar do país, em busca de riquezas e aventuras. É o maior estado da região Sudeste, também o estado que tem o maior número de municípios (853 municípios ao todo). Gente pra caramba vive em Minas.
É um estado que preserva sua história, por isso é quase um museu à céu aberto. Caso deseje um passeio histórico pelo passado, cidades como Congonhas do Campo, Ouro Preto e Diamantina vão te trazer uma experiência única, afinal, só Minas te entregará o maior complexo arquitetônico e artístico do período colonial. Obviamente não é somente isso. Esse estado incrível, já presenteou nosso país com artistas como Aleijadinho (maior representante do Barroco Mineiro) e mestre Ataíde (pintor do período transicional do Barroco para o Rococó).
Na Culinária, Minas também é muito rica. Ela está diretamente ligada ao território, sobretudo costuma usar ingredientes bastante regionais. A cozinha mineira, tem um ingrediente que não se pode emular em lugar nenhum e é passada de pais para filhos ao longo do tempo, esse ingrediente é o afeto. Muitas receitas são transmitidas por famílias ao longo de gerações, por isso é uma culinária bastante tradicional.
O Fogo aceso, as pessoas em volta da mesa, histórias contadas que fazem com que cada prato seja uma experiência bem imersiva. Influenciada diretamente pela culinária europeia, indígena e africana, tudo num bololô só. Então espia só, cadiquê ao som de O Trem azul do maravilhoso LP Clube da Esquina, gravado pelo Milton Nascimento e Lô Borges, a gente vai harmonizar esse trem, com as melhores cervejas que conseguirmos. Apruma o corpo que essa coluna está arroiada de dica bacana.
Harmonização de cervejas com comida mineira
Tutu de feijão: Esse prato que tem influências vindas da África, é feito com feijão cozido, refogado e engrossado com farinha de milho ou de mandioca. Com frequência é encontrado também numa versão com cebola e bacon. Aqui vamos ousar numa harmonização com Doppelbock. As notas maltadas, sobretudo o perfil de tosta deste malte, vai combinar maravilhosamente com o feijão e o bacon deste prato.
Feijão tropeiro: Nomeado desta maneira em homenagem aos tropeiros que conduziam as tropas para os centros consumidores, carregando animais e todo tipo de bens de consumo, cortando o estado de Minas Gerais. Esse prato é feito com feijão misturado à farinha de mandioca, torresmo, linguiça, ovos, alho, cebola e outros temperos. Vamos fazer esta harmonização com uma bela Rauchbier. Depois de passar por esta harmonização, você vai achar que esse é o jeito certo de comer isso.
Torresmo: Um prato composto de pele com gordura de porco cortada e frita até ficar crocante, normalmente consumido como tira-gosto acompanhado de cerveja. Por tradição, uma Lager iria muito bem aqui, se for por este caminho, recomendo uma Bohemian Pilsner ou de repente uma Vienna lager (um pouco mais abiscoitada, por causa do malte de leve tosta). Mas se você é fã de uma American IPA, este é o seu momento
Pão de Queijo: Vou oferecer essa harmonização ao Renato Wamberto, do canal Nerd Show (no youtube) que vive por aí distribuindo receita de pão de queijo e tirando essa iguaria dos maus-tratos! Uma iguaria tradicional do estado mineiro e famoso no mundo todo. Vamos de cerveja preta com certeza. Robust Porter ou de repente uma Dry Stout. As notas de malte torrado que remetem a chocolate e café, vão trazer aquele gosto de infância de quando você comia pão de queijo com Nescau ou Café!
Eita trem bom, sô! Deu até vontade de voltar para Minas o mais rápido possível. Espero que você tenha curtido as harmonizações, se divirta na cozinha e saúde!