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Entrevista com Juliano Mendes – Um dos fundadores da marca Eisenbahn

A marca Eisenbahn foi uma das primeiras marcas a produzir cervejas especiais no Brasil. Já foi premiada no Brasil e em países como Alemanha, Austrália e Estados Unidos. Por trás disso está um de seus fundadores, Julianos Mendes, que após voltar com seu irmão de uma estadia nos Estados Unidos, colocou em prática o sonho de sua família e criou em 2002, na cidade de Blumenau/Santa Catarina, a Eisenbahn.

Conversamos com Juliano Mendes, que nos contou mais sobre sua história e trajetória no mercado cervejeiro.

Cerveja de Todos os Jeitos:  Juliano, como foi sua trajetória no meio cervejeiro?

Juliano Mendes: Sempre foi um sonho da nossa família produzir cervejas. É nossa bebida preferida. Além disso, somos de Blumenau, cidade de alemães e da Oktoberfest. E para completar, meu pai trabalhava com empresas da Alemanha e acabávamos tendo contato com cervejas de lá. Em 97 eu e meu irmão moramos em Boston, cidade da Samuel Adams. Lá, inspirados por eles, descobrimos o maravilhoso mundo das cervejas especiais, artesanais. Voltamos ao Brasil com a ideia de montar uma cervejaria, algo que se concretizou através da Eisenbahn alguns anos depois, mais precisamente em 2002.

Cerveja de Todos os Jeitos:  A Eisenbahn surgiu em um momento de pouquíssimas cervejarias artesanais no Brasil. Como foi trabalhar em um tempo de escassez de matéria prima e mercado consumidor de artesanais praticamente inexistente?

Juliano Mendes: Realmente haviam pouquíssimas opções no mercado, poucas importadas. Não havia variedade de lúpulos, maltes e muito menos de leveduras. Tínhamos que fazer importações diretas de malte e leveduras. Já falando dos consumidores, costumo dizer que eram eles, e não os concorrentes, nossos maiores obstáculos. O consumidor da época não tinha o menor interesse por cervejas diferentes, mais intensas em aroma e sabor. Não tinha, também, nenhum interesse em pagar 3 ou 4 vezes mais por uma garrafa de cerveja. Tivemos que pouco a pouco trabalhar a educação cervejeira e mostrar as diferenças entre um produto artesanal e um de larga escala.

Cerveja de Todos os Jeitos: Como foi ser um dos pioneiros no mercado cervejeiro?

Juliano Mendes: Vendo toda a transformação que observamos nesse mercado, a quantidade de cervejarias novas e de pessoas trabalhando e envolvidas com o desenvolvimento desse mercado, é muito legal ser reconhecido como um dos pioneiros. Acho que a coisa mais legal que escuto de vez em quando é, “hoje trabalho com cerveja por causa de vocês”. Imagine que legal. A pessoa dedica sua vida profissional a algo por inspiração pelo que começamos lá atrás.

Mas o pioneirismo traz dificuldades e desafios enormes. Falta de matéria, não haviam profissionais da área no mercado e o consumidor não tinha interesse. Outra dificuldade era entrar nos pontos de venda. Naquela época, mais do que hoje, os bares eram blindados por grandes cervejarias. Era muito difícil conquistar novos clientes, porque além de receberem dinheiro por exclusividade, não haviam consumidores procurando, ainda, por cervejas especiais.

Cerveja de Todos os Jeitos: Quais os principais prêmios e a importância da conquista deles para a marca Eisenbahn?

Juliano Mendes: Os principais foram os primeiros, em 2007. Até então nenhuma outra cervejaria brasileira havia sido premiada com cervejas especiais fora do Brasil. Foram dois bronzes, na Alemanha, com a Weizenbock e com a Dunkel, na categoria Schwarzbier. No mesmo ano recebemos um bronze no World Beer Cup, nos EUA, e ainda medalhas de ouro na Austrália. Sempre batalhamos, desde o início, para fazer cervejas com o mesmo nível de qualidade que as melhores do mundo. E nesse primeiro prêmio estávamos ao lado da Schneider Weisse, com prata, e da Samuel Adams, na categoria Schwarzbier. Estávamos recebendo medalhas junto com duas das nossas grandes inspirações.

Cerveja de Todos os Jeitos: Você se tornou um referencial em empreendedorismo no Brasil. O que falta para sermos mais empreendedores no Brasil?

Juliano Mendes: Para termos vontade de empreender não falta quase nada. O brasileiro é empreendedor por natureza. O que falta, na verdade, é um ambiente propício ao empreendedorismo. Temos hoje uma hostilidade enorme para quem tem coragem de abrir um negócio, gerar empregos, riqueza e que coloca a sua própria vida em risco. Uma burocracia sem igual, falta de financiamento a juros razoáveis, falta de infraestrutura e serviços de logística. O empreendedor é tratado no Brasil, pelo próprio governo, como um grande inimigo.

Cerveja de Todos os Jeitos:  O mercado de cerveja e alimentação no país é algo relativamente antigo e consolidado. Mas para produtos artesanais, quais os principais desafios hoje?

Juliano Mendes: O grande desafio são os custos para se produzir produtos especiais no Brasil. Tudo é muito caro e complicado para quem é pequeno. E esses altos custos têm como consequência produtos caros nos pontos de venda. Em um país em crise e com população de baixo poder aquisitivo, fica muito difícil sobreviver quando o produto é caro.

Cerveja de Todos os Jeitos: Que dicas você pode dar para o leitor da Revista de Todos os Jeitos na hora de empreender no mercado cervejeiro?

Juliano Mendes: Em primeiro lugar, fazer um bom planejamento financeiro. Avaliar bem os custos envolvidos e principalmente a alta carga tributária. Uma boa concepção das receitas é fundamental. O mercado está muito competitivo, com ótimas cervejas. E por fim, não basta avaliar o financeiro e ter bons produtos sem um belo apelo visual, com rótulos atraentes.

Cerveja de Todos os Jeitos: Quais seus próximos projetos, há alguma novidade que possa compartilhar conosco?

Juliano Mendes: Estou dedicado aos nossos dois negócios, um pub de inspiração inglesa em Blumenau, o The Basement, e a nossa fábrica de queijos especiais, a Pomerode Alimentos, onde fazemos queijos fundidos e, mais recentemente, queijos de mofo branco, como Brie e Camembert, sob a marca Vermont.

Cerveja de Todos os Jeitos:  E para fechar, como você vê o cenário da cerveja artesanal hoje no Brasil?

Juliano Mendes: O mercado vive um momento muito especial, com pessoas entusiasmadas e apaixonadas. Isso tudo tem gerado profissionais mais bem preparados, tanto na fabricação quanto no serviço. Muitas cervejas produzidas no Brasil estão, sem dúvida, entre as melhores do mundo. Isso era impensável 16 anos atrás.

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Escrito por Ana Paula Komar

Jornalista, apaixonada por história, curiosa por culturas e apreciadora de boas cervejas!