A harmonização com cerveja inglesa de hoje traz um pouquinho mais de conhecimento sobre a tradicional escola britânica de cervejas. Uma escola clássica, sobretudo nas cervejas de tipo Ale.
Imaginem só a surpresa de Júlio César (ele mesmo, o imperador romano) ao encontrar em 55 a.C. aldeões que fabricavam uma bebida alcoólica fermentada a partir de grãos!
Estudos históricos apontam que tribos Celtas já fermentavam cerveja, naquele território que hoje é o Reino Unido, há mais de 1.500 anos antes de Cristo. A bebida popularizou-se muito mais que o famoso hidromel (afinal de contas, para fabricar este fermentado de água e mel era necessário brigar com as abelhas).
De lá pra cá, muitas coisas mudaram. Em algum momento na Idade média, deixaram de adicionar ervas nas cervejas e passaram a utilizar lúpulo (por suas propriedades de conservação do produto).
No passado, inclusive, todo o fermentado produzido sem lúpulo era chamado de Ale, foi justamente a introdução deste insumo que fez com que essa bebida ganhasse o nome de Beer. A distinção da nomenclatura ficou no passado, e passou a ser utilizada novamente para distinguir as cervejas produzidas por baixa fermentação (Lager) e alta fermentação (Ale).
Crescimento na demanda
O curioso é que mesmo com a expansão do Império Romano por toda a Europa, a cerveja ainda era considerada uma bebida inferior ao vinho. Entretanto, justamente por seu baixo valor, passou a ser consumida em grande escala.
Não demorou muito e a produção caseira não era mais suficiente para abastecer todo o Império. Aproveitando o crescimento do cristianismo, as igrejas foram estimuladas a produzir cada vez mais para suprir essa demanda.
Alguns estudiosos, inclusive, acreditam que a bebida servida na Santa Ceia foi a cerveja, justamente por não serem nobres os que se sentavam à mesa com Jesus.
A Escola Inglesa tem uma influência gigantesca nas cervejas do resto do mundo. Tem influência ainda maior nas cervejas da Escola Americana. Estilos como o American Pale Ale, nasceram de uma releitura da clássica Pale Ale inglesa (só que com lúpulo frutado produzido nos Estados Unidos). Assim como a American India Pale Ale (que abocanha 71,2% das vendas de toda cerveja artesanal no Brasil) também é uma releitura da IPA inglesa.
Então hoje, em nome de Deus, das cervejas e da rainha, ao som de Helter Skelter, dos Beatles, Vamos harmonizar os mais importantes estilos de cervejas da terra de Elizabeth com comidas diversas!
Pale Ale:
Esta cerveja tem aparência que vai do amarelo pálido ao âmbar profundo. O aroma de lúpulo inglês costuma remeter a grama, leve resinoso e terroso com sabor moderadamente amargo e final seco. Harmoniza muito bem com chouriço, carne assada e nozes!
Cerveja: Fuller’s Past Masters 1909
Ordinary Bitter:
Esta é um clássico inglês. Os melhores exemplares costumam ter aroma e sabor mais maltado, às vezes até um pouquinho de caramelo. Amargor médio equilibrado com dulçor de malte. Esta é outra cerveja pra você levar pro churrasco, ou comer com peru assado, ou até mesmo um hambúrguer com molho barbecue.
Cerveja: Bombardier
Porter:
Entramos em território torrado! Esta cerveja marrom-escura tem aromas e sabores que remetem a chocolate ao leite e leve café coado. Pra esta harmonização gosto bastante do doces, como brownies, chocolates e, de repente, até um pudim de leite.
Cerveja: To Ol 888 Series 08 Porter
Stout:
Cerveja: Fuller’s Black Cab Stout
Aqui estamos intensificando o torrado nos grãos de malte. Já temos uma cerveja preta com aromas e sabores que lembram café expresso, chocolate meio amargo e amargor de torra. A gente podia trazer umas sobremesas também, quem sabe uma “vaca preta” com sorvete de creme, mas vamos harmonizar com um cuscuz tipicamente nordestino, uma feijoada ou nachos mexicanos.
A Inglaterra nos presenteia o tempo todo com excelentes músicas, mas não vamos esquecer que ela também abriga a escola Inglesa de Psicanálise, a qual, modestamente, eu sigo. Então, embora não fosse inglês, vamos brindar tudo isso ao Freud, ok? Afinal cerveja é uma bebida social, e como o próprio Freud dizia: “Qualquer coisa que encoraje o crescimento de laços emocionais, tem que servir contra as guerras”.
Cheers!