Na Bélgica a cultura cervejeira está muito ligada às abadias e monastérios, afinal belíssimos exemplares são conhecidos mundialmente por serem cervejas de abadia. Na minha primeira expedição cervejeira consegui conhecer todos os mosteiros trapistas belgas, então nesta segunda empreitada do Indiana Jones da cerveja optei por conhecer algumas abadias de rótulos renomados.
Vale lembrar que, diferente das trapistas, as cervejas de abadia não seguem uma regra determinada de produção: podem ser feitas pela própria abadia em seu interior, por cervejarias comerciais a mando da instituição religiosa ou podem simplesmente ter seu nome cedido à produção de cervejas.
Pois bem, após dois dias em Achouffe visitando as cervejarias da região, era hora de deixar os gnomos e a pousada da menor cervejaria oficial belga e ir até Leuven. Poderíamos seguir direto, mas optamos por fazer um pequeno desvio que duraria o dia todo para conhecer duas abadias e degustar as cervejas na fonte, ou muito próximo dela.
Disneylândia cervejeira
A primeira parada foi a Abadia de Val-Dieu, produtora de diversos rótulos do mesmo nome. Logo na chegada já fui surpreendido com a imponente igreja de uma só torre. A cervejaria, que fica ao lado da igreja, estava fechada e não conseguimos fazer uma visitação guiada, pois os tours são feitos com o mínimo de 15 pessoas. Acabei fazendo uma mini visitação guiada por mim mesmo, pelo lado externo das instalações cervejeiras.
Já a igreja e o pátio interno estavam totalmente acessíveis, com um bosque imenso e magnificamente bem cuidado, com direito a lago e esquilos subindo e descendo das árvores. Passeamos por tudo até cansar e dar muita sede.
Do outro lado da rua, fica o Le Moulin du Val-Dieu, restaurante onde são servidas as cervejas frescas da abadia. O restaurante dava a opção de pequenas taças direto da torneira, então optei por degustar todos os rótulos disponíveis: Blonde, Brune (uma Dubbel), Tripel, Bière de Noel (deliciosa Winter Ale, disponível somente no inverno) e Cuvée 800 (Belgian Pale Ale).
Para harmonizar com as almôndegas da casa ao molho Dubbel, degustei no almoço a Grand Cru (Quadrupel). A experiência de provar as cervejas onde são produzidas é realmente fantástica!
Depois de muito bem alimentado, passei na “Disneylândia cervejeira”, também conhecida como loja da abadia: eram diversas opções de taças, todas as cervejas da Val-Dieu e várias combinações de four-packs e six-packs. Por restrições de espaço, me limitei a levar duas taças e um four-pack.
Degustação exclusiva de cervejas de abadia
Seguindo a expedição, iniciamos o deslocamento de uma hora até a Averbode. Os arredores são repletos de árvores e bosques e a entrada da abadia é relativamente simples. Porém, ao adentrar nos deparamos com uma paisagem de tirar o fôlego. O pátio interno era muito grande, com um lago artificial em frente à igreja e ao lado dos aposentos da abadia.
A igreja, que por fora causava imponência, por dentro revelava simplicidade: toda branca, com poucos adornos e uma sensação de paz capaz de acalmar qualquer cervejeiro ansioso.
Tiradas muitas fotos e com todos os cantinhos da abadia muito bem visitados, fui conhecer o Het Moment. É um café dentro da abadia, onde são produzidos pães, queijos e, claro, cerveja. Além disso, é também um grande projeto social: boa parte dos funcionários são portadores de alguma deficiência. O ambiente é muito aconchegante e o atendimento é fantástico!
A cerveja de abadia Averbode que temos acesso em garrafa, uma Belgian Golden Strong Ale, é produzida pela Brouwerij Huyghe, a mesma cervejaria que também faz a Delirium Tremens. Porém, o Het Moment produz outros dois rótulos e só é possível prová-los lá: a Averbode Momentum (Belgian Blonde) e a Averbode Bruin (Dubbel).
Como não podia deixar passar, iniciei a degustação com as duas cervejas da casa, acompanhadas pelos queijos e pães também produzidos pelo café. Na sequência, não resisti e tive que provar o frescor do carro chefe, a Averbode tradicional. Difícil dizer se foi o momento que tornou a cerveja tão gostosa ou se foi a cerveja que tornou o momento tão agradável.
Fiz uma pausa para ir até o mezanino, onde é possível ver toda a cozinha cervejeira e os fermentadores horizontais e verticais. Para minha sorte, a mini cervejaria estava em produção e o cheiro de malte era sensacional. Praticamente da panela ao copo. Antes de sair, finalizei com mais uma degustação das duas relíquias que só são encontradas lá.
Por fim, como de praxe, passei na loja da abadia, que fica dentro do Het Moment, para levar as duas taças que me ajudariam a eternizar aquele dia na minha memória e na minha cristaleira. Até a próxima abadia!