A pedagoga e educadora parental explica como é possível uma geração de adultos e crianças com mais saúde
Hoje tenho a honra de compartilhar com vocês uma entrevista exclusiva com a Maya Eigenmann, que é referência brasileira absoluta quando se fala de maternidade e cuidado com os filhos.
Maya é Pedagoga, Educadora Parental, sócia da Escola da Educação Positiva, pós-graduada em Neurociências e autora de quatro livros, entre eles os best sellers “A raiva não educa. A calma educa: Por uma geração de adultos e crianças com mais saúde” e “Pais Feridos, filhos sobreviventes”. Ela também acumula uma grande comunidade de mães e pais que são adeptos da prática da Educação Positiva ou querem aprender mais – só no Instagram são mais de 1 milhão de pessoas. Ela costuma defender que o afeto, respeito e acolhimento podem beneficiar a saúde física e emocional das crianças. Estes são conceitos da Educação Positiva, que defende uma educação respeitosa, considerando as necessidades e os sentimentos dos filhos, sem deixar de colocar os limites necessários na criação.
Maya, qual a importância de falar sobre maternidade para uma revista de público prioritariamente masculino?
Muitas das tarefas relacionadas ao cuidado dos filhos são automaticamente atribuídas às mulheres, gerando um desequilíbrio na quantidade de responsabilidades entre os genitores. Homens precisam se interessar mais sobre assuntos maternantes se desejam que as crianças cresçam com mais saúde emocional, pois inevitavelmente é a criança que pagará o preço pela mãe sobrecarregada.
A sobrecarga acontece pela falta de “braços”. Se a mãe está sobrecarregada, a causa disso é a ausência do outro genitor (que, no caso de casais heteroafetivos, é o pai).
Durante a gestação e os primeiros meses do bebê, os pais costumam dizer que não sabem bem o que fazer, não sabem qual o papel do pai nesse momento em que o bebê está tão fisicamente ligado à mãe. O que você diria a esses pais?
Nós mães também temos inúmeras dúvidas. Não é porque gestamos o bebê que naturalmente sabemos mais. O que acontece é que, devido a estruturação social, somos incubidas, quer queiramos, quer não, com a responsabilidade dos cuidados universais da criança. Então, acabamos fazendo por onde, mas a conta não fecha, porque são demandas demais para uma só pessoa.
Como buscamos o saber em outras áreas da nossa vida? Indo atrás de informação e estudando. É isso que todos os pais precisam fazer.
Se tivermos que passar por uma cirurgia no coração, confiaríamos nossa vida nas mãos de uma pessoa que não fosse especializada nisso? Que não tivesse estudado anos, feito inúmeros estágios e aperfeiçoamentos para garantir que saiamos da cirurgia com vida e com um coração saudável?
Pois bem. Nossos filhos também confiam suas vidas em nossas mãos. Estamos estudando o suficiente para esta, que é talvez a maior missão de nossas vidas?
A melhor forma de saber sobre maternidade é falando com as mães. Fale com as mães da tua vida. Pergunte sobre o que sobrecarrega e se torne o alívio desta sobrecarga. Faça isso não apenas no dia das mães, mas constantemente.
Na recente pesquisa da plataforma De Mãe em Mãe, feita por uma pesquisadora de Medicina da USP, em 2024, foi revelado que 97% das mães entrevistadas têm “sentimento de sobrecarga” por pelo menos 5 dias da semana. O que seria essa sobrecarga e quais seus impactos para as mães e os filhos? E porque isso seria relevante para toda a sociedade?
O principal problema da sobrecarga é que ela gera irritabilidade que, muitas das vezes, acaba sendo descontada na criança. Por isso que mães não podem ser deixadas com os cuidados exclusivos da criança. Nem um ser humano deveria ser unicamente responsável por uma criança, pois as demandas são muitas e, sozinha, uma pessoa não chega nem perto de supri-las.
O que é a Educação Positiva?
É uma área multidisciplinar de conhecimento que se embasa em 5 pilares (Teoria do Apego Seguro, Ciência do Desenvolvimento Humano, Desenho original do ser humano, Inteligência Emocional e Estudos Sociais), cuja finalidade é prevenir e reduzir traumas na infância.
Você costuma dizer que a Educação Positiva salvou seus filhos de você mesma. Por quê?
Antes de ser mãe, eu vivia dizendo pra mim mesma que não repetiria os padrões da minha infância com meus filhos, mas quando meus filhos chegaram, eu não conseguia fazer diferente, mesmo sabendo que estava errada. Eu vivia explodindo, ameaçando, castigando, brigando. Em seguida me arrependia, prometia para mim e meus filhos que não agiria mais assim, mas logo o ciclo recomeçava. Isso estava me deixando desesperada, porque parecia que havia algo estragado em mim que não tinha jeito de ser consertado. Quando a Educação Positiva entrou na minha vida e eu comecei a ver as primeiras pequenas mudanças, aquilo me deu uma esperança formidável de que meus filhos não estavam fadados a sofrerem em suas infâncias do jeito que eu sofri. Não estou falando sobre dar aos nossos filhos uma infância perfeita (esta não existe), mas uma infância com mais conexão e menos medo.
Muitas pessoas afirmam que as crianças e adolescentes de hoje fazem parte de uma “Geração Nutella”, que não suporta nada emocionalmente, que é considerada “frágil”. Normalmente essa afirmação vem em comparação com a informalmente chamada “Geração Raiz”, que seria a geração anterior, considerada mais forte, aquele que “apanhou e sobreviveu”. O que você acha sobre isso?
Já temos estudos científicos o suficiente que comprovam o exato oposto disso, como o estudo sobre Experiências Adversas na Infância (FELITTI, 1998). Sem contar que o que se considera “forte” é muito mais um sinônimo de repressão emocional. Reprimir os próprios medos, engolir a própria tristeza não são sinais de força, muito pelo contrário.
Precisamos começar a mudar a forma como encaramos esses relatos sobre ter apanhado e sobrevivido. Mas e se, ao invés de sobreviver, você tivesse VIVIDO? Não podemos mais normalizar uma criança precisar ter medo de apanhar!
O que você acha que todos os homens deveriam saber sobre MATERNIDADE?
A melhor forma de saber sobre maternidade é falando com as mães. Fale com as mães da tua vida. Pergunte sobre o que sobrecarrega e se torne o alívio desta sobrecarga. Faça isso não apenas no dia das mães, mas constantemente.
Teus filhos crescerão com você como exemplo. Qual exemplo você deseja ser para eles? Do homem que dividiu as responsabilidades ou que abdicou delas?