Recentemente a Lohn Bier, cervejaria de Lauro Muller, em Santa Catarina, anunciou que irá participar do programa de aceleração ZX Ventures, da Ambev, que tem como objetivo fortalecer o mundo cervejeiro.
Dentro do programa, a Lohn Bier passará por uma mentoria de gestão e terá acesso às tecnologias cervejeiras mais inovadoras, além do acesso a mais insumos, como o banco de leveduras da AB InBev, o mais completo do mundo.
Para sanar diversas dúvidas a respeito da participação da cervejaria nessa iniciativa, conversamos com um dos fundadores da Lohn Bier, Francisco Eduardo Felisbino, e com o gerente comercial da marca, Leandro Silvino Stein. Eles explicam tudo na entrevista.
Com o que as cervejarias precisam se preocupar para manter o segmento aquecido?
Leandro: Qualidade do produto comercializado é o primeiro e principal ponto. A manutenção de um padrão de qualidade em qualquer embalagem é algo relevante para a manutenção do produto no mercado, mas também para preservarmos os consumidores na categoria. É recorrente problemas de padrão no segmento.
Como vocês veem a proposta de gigantes, como Ambev e Heineken, injetarem dinheiro ou até mesmo comprarem cervejarias até então independentes?
Eduardo: Entendemos como um movimento natural do mercado, que acontece em todo o mundo, por várias empresas do segmento, não somente Ambev e Heineken.
Qual o impacto disso no mercado?
Eduardo: O principal impacto, no que se refere a visibilidade, certamente refere-se à distribuição, possibilitando acessar mercados ainda não visitados, contribuindo muito para a democratização do consumo. Entretanto, existem também outros impactos positivos, talvez menos visíveis, como acesso a conhecimentos técnicos e de gestão ainda inacessíveis pelas cervejarias artesanais e utilização de insumos acessíveis somente por empresas com escala global, como leveduras e lúpulos de diferentes variedades.
O maior cuidado gira em torno da manutenção dos principais elementos e conexões da marca, e também no relacionamento com o mercado de cervejas artesanais, fomentando o ecossistema.
Como irá funcionar o investimento da Ambev na Lohn Bier?
Leandro: No caso da Lohn, trata-se de um programa de aceleração junto à ZX Ventures, que é um braço de inovação da Ambev. Passaremos por um processo de mentoria de gestão, no qual as práticas que mais se adequam ao modelo de negócio da Lohn serão utilizadas. Também teremos acesso às mais inovadoras tecnologias de produção, além de insumos de variedades que ainda não tínhamos acesso, possibilitando inovar cada vez mais em nossos produtos, algo muito presente em toda nossa trajetória. Além disso passaremos a acessar mercados em que ainda não chegamos, levando nossos produtos a muito mais clientes.
Qual de fato será a participação da Ambev na Lohn? Irão se envolver com criação de rótulos, definição de receitas, etc?
Leandro: Nosso contato maior será com a equipe da ZX Ventures, de modo que a atuação junto à Lohn será a busca por oportunidades de como nos ajudar a alcançar nossos objetivos principais. Com profissionais altamente qualificados, e com tecnologias de produção e de qualidade das mais inovadoras do planeta, é natural que iremos buscar oportunidades de melhoria junto à ZX Ventures quando necessário.
Por que decidiram participar desse programa? E quais os benefícios desse investimento para a Lohn Bier?
Eduardo: Somos muito satisfeitos com a trajetória da Lohn até aqui. Crescemos, nos profissionalizamos e fomos reconhecidos pelo mercado e pelos juízes de cervejas, pela qualidade dos nossos produtos no Brasil e no exterior. Foram mais de 100 medalhas em quase 30 rótulos. Seguimos um caminho de inovação e democratização que consideramos muito raro e extremamente positivo.
A parceria com a ZX Ventures nos permite seguir nossa trajetória, com uma escala maior. Temos oportunidades enormes de melhorias em todas as áreas da empresa, vendas, operações, produção e novos produtos. Acessando tecnologias e padrões ainda melhores, nossos produtos irão ficar ainda mais legais e isso nos entusiasma muito!
Quais as projeções futuras da cervejaria, após a participação no programa ZX Ventures?
Leandro: Contribuir com a democratização das cervejas artesanais, principalmente nos três estados do Sul, e disponibilizarmos nossos produtos mais especiais e inovadores para os consumidores mais maduros de cervejas especiais de todo o Brasil, aumentando nossa presença de marca nacionalmente. Nosso sonho é sermos a maior cervejaria artesanal do Sul do Brasil, reconhecida nacionalmente pela qualidade e criatividade na produção das nossas cervejas. O caminho é longo, mas estamos muito entusiasmados com esse projeto.
Mas afinal, é bom ou ruim uma cervejaria independente receber investimento ou até mesmo ser comprada por uma gigante?
Nos últimos anos o mercado cervejeiro no Brasil manteve crescimento em ritmo acelerado. Segundo dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), no Anuário da Cerveja no Brasil 2018, o ano fechou com 889 cervejarias, 270 a mais do que em 2017. Em 2019 esse número ultrapassou mais de 1000 fábricas de cerveja instaladas no país. Para se ter uma ideia da expansão do segmento, em 10 anos o volume praticamente quadruplicou.
E, como comportamento normal de mercado, quando algo começa a ganhar muito destaque, as já bem estabelecidas e grandes empresas criam iniciativas para investir em nichos promissores.
Nós procuramos entender melhor como isso é visto pelo mercado, e contamos tanto com a opinião de consumidores como de profissionais.