Há alguns meses escrevi sobre cervejas Belgas, e embora tenha só dado uma chegadinha nas cervejas Trapistas, fiquei morrendo de vontade de fazer uma sessão só de harmonização com cerveja Trapista. Afinal de contas, essa cerveja é coisa sagrada.
Sagrada de verdade, pois a Ordem dos Cistercienses Reformados de Estrita Observância (também conhecida como Ordem Trapista) é responsável pela produção da joia da coroa, no que diz respeito às cervejas, sobretudo na Bélgica.
Não é só de cerveja trapista que vive o universo “sagrado” das cervejas. Existem outros monastérios católicos que também mexem com água, lúpulo e levedura, e a essas bebidas damos o nome de cervejas de Abadia.
Para uma breja ser considerada Trapista, ela precisa, necessariamente, ser do monastério da Ordem Trapista. Para você ter uma ideia: dos 171 monastérios espalhados pelo mundo, apenas 14 deles são autorizados a utilizarem o selo Trapista:
- Rochefort (Abadia de Notre-Dame de Saint-Rémy), Achel (Abadia de São Bento, mais conhecida como “Achelse Kluis”), Orval (Abadia de Orval abbey), Westmalle (Abadia Nossa Senhora do Sagrado Coração, mais conhecida como Abadia Trapista de Westmalle), Westvleteren (Abadia de Saint Sixtus) e Chimay (Abadia de Scourmont), na Bélgica;
- La Trappe (Abadia de Koningshoeven) e Zundert (Abadia Maria Toevlucht), na Holanda;
- Stift Engelszell (Abadia de Engelszell), na Áustria;
- Spencer Trappist (abadía de Saint Joseph), nos Estados Unidos; e
- Tre Fontane (Abadia de Tre Fontane), em Roma.
- Mont des Cats (Abadia Mont des Cats), na França.
- Mount St. Bernard (Abadia de Mount Saint Bernard), na Inglaterra.
- Cardeña (Monasterio de San Pedro de Cardeña), na Espanha.
Esses são os responsáveis pelo brilho nos olhos de todo cervejeiro e também pontos obrigatórios para quem procura um tour cervejeiro na Europa (com exceção, neste caso, do St. Joseph’s Abbey que fica nos EUA). Diante disso, ao som de Cello Suite Nº 1 em Sol maior do Johann Sebastian Bach, vamos harmonizar esses presentes divinos com nossas comidas favoritas!
Orval (Bélgica):
A Orval é um excelente exemplar de cerveja Trapista de estilo Specialty Beer. Feita por fermentação espontânea (Brettanomyces), tem um aroma característico de estábulo, leve couro e leve acidez, com sabor adocicado de malte que lembra caramelo e mel. Excelente para harmonizar com carnes exóticas, como javali e algumas de caças, além de queijos fortes.
Chimay Blue (Bélgica):
A Chimay tem diversos rótulos, divididos por cores. Dentre os rótulos, a mais conhecida e mais fácil de encontrar é a Chimay Blue. Tem um aroma maltado que chega a caramelo, quase melaço. No sabor, as notas aromáticas são bem representadas, mas acrescenta-se a sensação de frutas secas, amargor médio e presença alcoólica. Você pode decidir levá-la para um churrasco, mas pode também fazer um evento mais intimista e harmonizar com queijos tipo brie, camembert e gorgonzola.
La Trappe (Holanda):
A La Trappe é um mosteiro trapista da Holanda também tem diversos estilos de cerveja. Vamos tomar como base a Belgian Tripel (mais tradicional). Ela tem uma aparência amarelo-ouro que quase lembra mel, aroma que remete a frutas amarelas, leve compota de laranja, com boa presença de lúpulo em equilíbrio entre dulçor e amargor e alto teor alcoólico (8% de ABV). Aqui, a gente pode harmonizar com comida mediterrânea, de repente um cuscuz marroquino e queijos azuis.
Spencer Trappist Ale (EUA):
A Spencer, embora este seja um mosteiro trapista americano, vamos levar em conta uma Belgian Pale Ale. Em aroma tem notas que remetem a mel, pêssegos, frutas de caroço e cristalizadas. Bastante complexa (como a maioria das trapistas), com sabor maltado que remete a pão. Harmoniza bem com carpaccio, carne de coelho e aves.
Essa é a união sagrada entre o divino e a cerveja, então, parafraseando Benjamin Franklin, “a cerveja é a prova viva de que Deus nos ama e nos quer ver felizes!” Sendo assim: SAÚDE!!!