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Harmonização com cervejas da Escola Belga

Para o post de harmonização com cervejas de hoje vamos falar um pouco sobre a Havana Dreams: a nova breja do Clube do Malte. Super leve, frutada, refrescante. No que diz respeito à amargor, o completo oposto da IPA Undergroud. Julgo dizer, inclusive que agradará a um público oposto aos Hop Heads, consumidores de IPA. Mas não é somente o baixo amargor que difere de sua irmã mais velha.

Esta é uma cerveja que leva casca de laranja e semente de coentro em sua receita, sua coloração amarela-palha e os aromas característicos denunciam o estilo. Havana Dreams, embora nos carregue à sombra dos coqueiros caribenhos, com o sol dos trópicos ao som de música cubana, seu estilo vem lá das terras geladas do outro lado do Atlântico. Ela é uma Witbier, uma cerveja tradicional da Escola Belga, conhecida por ser a escola mais criativa de cervejas do mundo.

Lendas, religião e cerveja

Podíamos ficar aqui, por páginas e páginas falando sobre as incríveis lendas sobre as cervejas belgas, como a do “cajado mágico da cerveja” (que viajava com os monges pra fermentar cerveja em toda Europa), ou a história sobre os clérigos fazerem o mosto cervejeiro e o próprio Deus se encarregar da fermentação (por conta da levedura brettanomyces presente no ar de lá).

As cervejas belgas são carregadas de misticismo e religiosidade, boa parte dos monastérios Trapistas ficam lá (sobretudo os mais famosos, como Orval, Chimay e Westvleteren), assim como outras ordem de monges cervejeiros. Esta escola cervejeira também é conhecida por explorar gostos e aromas diversos em suas bebidas.

As cervejas belgas, patrimônio da humanidade, oferecem ao mundo uma experiência sensorial incrível, aromas que vão do frutado ao de estábulo, couro, madeira… Isso pra nem tocar na imensidão de inserções de sementes e temperos que também estão presentes nas suas tradicionais receitas.

Foram os belgas, também, que ajudaram a popularizar utilização de copos de vidro para o serviço de cervejas. Afinal de contas, cerveja tinha um aspecto bem parecido no resto do mundo, entretanto elas eram maravilhosas de ver na Bélgica.

Cervejas brilhantes e de todas as cores se encontram lá. Uma paleta infinita de colorações. Até quem não bebe tem vontade de experimentar quando entra num pub em Bruxelas e vê os garçons carregando copos coloridos de um lado para o outro.

É exatamente com o desejo de conhecer a Bélgica, que hoje, ao som de cânticos gregorianos da idade média, vamos harmonizar obras de arte em forma de cerveja com comidas de todo tipo!

Vamos as harmonizações com cervejas!

Witbier:

Estilo da nossa queridinha Havana Dreams. Breja super leve, de coloração clara, às geralmente turva. Com sabores e aromas que remetem a frutas amarelas, cítricas, casca de laranja e semente de coentro. Geralmente, a Witbier costuma ser porta de entrada para o mundo das cervejas especiais figurando no início de muitas tábuas de degustação por aí. Harmoniza muito bem com peixe, ceviche e saladas.

Exemplo: Havana Dreams

Saison:

Esta breja é feita nos períodos mais frios do ano, e consumida pelos trabalhadores nos períodos mais quentes. Conhecida por ser uma cerveja de estação, tem um perfil sensorial mais cítrico, com amargor moderado, terrosa, condimentada e, às vezes, levemente picante. É uma cerveja que beira a “promiscuidade” no que diz respeito a harmonizações, mas vai muito bem com lagosta, crustáceos de modo geral, salames e lula frita.

Exemplo: St-Feuillien Saison

Trapista:

Harmonização com cervejas

Então, aqui teremos uma questão. Uma cerveja trapista significa que foi feita em abadia católica de ordem trapista, mas que estilo ela é? Não sabemos até olharmos o rótulo. Existe American IPA trapista feita em monastério nos Estados Unidos, mas como estamos falando da Bélgica, vou tomar como base uma Orval, fermentada com brettanomyces com aromas de estábulo e leves notas de couro, com sabor maltado marcante. Harmoniza bem com carne de caça e queijos fortes.

Exemplo: Orval

Lambic:

Harmonização com cervejas

Estas são cervejas produzidas obrigatoriamente nas cidades de Lambeek e Pajottenland, na Bélgica, inclusive com selo de autenticidade. É feita tradicionalmente também por fermentação espontânea com brettanomyces. Geralmente considerada cerveja de guarda (às vezes com adição de frutas como as Fruit Lambics), se fermetada com Brett tem aroma de estábulo e couro, mas no geral também traz um leve terroso e sutil gramíneo por conta da fermentação com esse tipo de levedura. Bom para harmonizar com frutos do mar, torta de limão e queijos picantes.

Exemplo: Boon Faro

Ao servir uma cerveja belga, atente-se para o resíduo de fundo nas garrafas. É de bom tom que deixe um dedo de cerveja com o resíduo lá no fundo, que deve ser servido separadamente num copinho de shot, pois costuma deixar a cerveja muito mais amarga do que deveria. Caso o consumidor queira misturar e beber tudo junto, é por conta dele. Espero que tenha gostado das dicas e Op uw gezondheid !!!

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Escrito por Carlos Henrique Kruschewsky

Psicólogo, psicanalista, presidente do Dragornia Moto Club, Beer Sommelier, Homebrewer e Sócio da Dragornia Cervejaria.