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Harmonização de cervejas na festa junina

Anarriê! Olha a cervejinha! É mentira! Se você é nordestino, acabou de chegar a época do ano que aquece o coração de qualquer um por aqui, se você não é, sinto muito… Sobra pra você a curiosidade em conhecer a maior e uma das mais democráticas festividades que existe, ou decidir correr para cá o mais rápido que puder e fazer a sua harmonização de cervejas com os pratos típicos da festa.

As festividades juninas no Nordeste giram em torno de dois feriados católicos bem importantes e que também correspondem ao período de chuvas (o que é muito importante para quem vive da lavoura por aqui). Nesse período tudo muda na região. As roupas, a música, o cheiro das coisas, os hábitos alimentares.

Diferente de todas as outras festividades do ano onde viajamos para as capitais, ou para o litoral, nas festividades juninas são os interiores os lugares mais procurados. E meu amigo, preciso te dizer uma coisa… por aqui, quanto menor a cidade ou povoado, mais tradicional e divertida é a festança. Me lembro muito bem da minha infância e de parte da minha adolescência, em Almadina (cidade de quase 25 mil habitantes no sul da Bahia), do hábito de passar na casa das pessoas perguntando “São João passou por aqui?” , servindo-se de todo tipo de comida típica (bolos diversos, cocadas, cural, canjica, amendoim e milho), tudo muito simples, com gente de um coração enorme. No fim tinha sempre um concurso de quadrilha e uma banda de forró tocando na praça. O cheiro de madeira associado a uma névoa de lenha queimando construía a composição do evento.

Harmonização de cervejas com 4 pratos típicos de festa junina

Uma vez, numa harmonização de cervejas com comida nordestina, eu disse que a culinária nordestina era a culinária da necessidade. Isso também se reflete na culinária típica desse período, afinal de contas o expressivo plantio de milho e amendoim é explorado em todos os aspectos. O milho, por exemplo (tão menosprezado na cultura cervejeira atual) é consumido de todas a maneira possíveis. Assado, cozido, em formato de suco, de licor, ralado e transformado em caldo, cural, canjica, pamonha, pipoca e uma infinidade de outros alimentos, assim como o amendoim. Hoje, ao som de Feira de Mangaio da Clara Nunes, gostaria de fazer essa homenagem a essa festa típica de um povo tão sofrido.

Pamonha: Pamonha é uma comida típica conhecida em todo o país, inclusive Piracicaba- SP conhece bem. Feita com milho ralado, temperado, embrulhado em trouxinhas de casca de milho e cozidas, pode ser doce ou salgada.Para harmonizar, caso se trate de uma pamonha salgada, vamos contrastar com uma cerveja que preserva dulçor e se equipara pela presença do milho em sua receita, a Kentucky Common, tradicional do sul dos Estados Unidos, mas se for doce, vamos contrastar dulçor e untuosidade com uma American Pale Ale ou NE IPA.

Bolo de aipim: Bolo de Aipim é uma das melhores coisas do São João, e desconheço coisa melhor do que uma fatia dele, de manhã bem cedinho com uma xícara de café bem quente. Aqui vamos substituir o café por uma cerveja que até remete um pouco à essa bebida, por levar malte torrado na receita, mas agrega mais com chocolate ao leite, a Robust Porter. O teor elevado de álcool vai colaborar com o dulçor do bolo.

Milho cozido: Aqui temos toda a exuberância do elemento mais famoso do período, o milho, em sua aparição mais elegante. Milho cozido com uma manteiguinha por cima é uma maravilha. Cervejas mais livres como Witibier ou Weizenbier cairiam muito bem, mas gostaria de dar uma atenção a cervejas alemãs de estilo Kölsch, uma cerveja bem maltada, doce, com elementos frutados que remetem a maçã e pêra, por exemplo.

Arroz doce: Aqui nós temos uma sobremesa feita com arroz, leite de coco, leite condensado e sem dúvida o de minha tia Carmélia é o melhor que existe (#fikadika rsrsr). Vamos harmonizar com uma Russian Imperial Stout, na qual o amargor de torra harmoniza muito bem com sobremesas, além de trazer uma sensação maravilhosa de café com leite.

Se você não conhece o São João do Nordeste, coloque na sua lista de viagens, bote na mala seu chapéu de palha e sua camisa de flanela quadriculada. Espero você aqui com uma bela caneca de cerveja na mão e viva São João!!!

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Escrito por Carlos Henrique Kruschewsky

Psicólogo, psicanalista, presidente do Dragornia Moto Club, Beer Sommelier, Homebrewer e Sócio da Dragornia Cervejaria.