Você já teve a experiência de entrar num bar sozinho? Sentou-se no balcão com um copo de cerveja na mão e observou todas as pessoas que estão ali em sua volta? Ao menos uma vez por semana vou à cervejaria Santo Antônio e quando não estou papeando com Aníbal (o garçom) ou Douglas (o gerente), fico ali olhando as pessoas, imaginando o que as levou aquele lugar, a que tipo de coisa estão bebendo, ou simplesmente tentando ler alguma coisa nos seus semblantes. Foi numa destas noites que decidi escrever sobre isso: por que o bar é esse lugar místico sobre o qual cantamos em nossas canções, declamado em versos e prosa por todo nosso globo terrestre?
Tudo isso me remeteu a questões muito antigas. Nós, seres humanos, lidamos com o consumo de bebidas alcoólicas há mais tempo do que imaginamos. Existem registros históricos que dizem que no período neolítico, também conhecido como período da “pedra polida”, nossos antepassados caçadores e coletores já desenvolviam uma bebida fermentada à base de mel de abelha e água, que era submetido a fermentação espontânea por meio de leveduras naturais. Esta bebida foi eternizada na história e conhecida na literatura como hidromel. Impossível não associar a figura dessa bebida milenar aos grandes salões de hidromel da Escandinávia, Europa Germânica e Bélgica. Eles eram enormes salões de festas no século V, onde essa sagrada bebida era servida a bravos guerreiros que contavam suas aventuras, colhiam as recompensas de suas jornadas e se hospedavam sob o teto do rei.
Bem nesses moldes, entretanto num formato de estabelecimento comercial, nasceram as tabernas (ou tavernas). Um local onde se reunia todo tipo de pessoa, sejam viajantes, aldeões locais, mulheres e crianças, e que vendiam vinho, cerveja e alguns alimentos a varejo, além de servir também como hospedaria. Na Idade Média, o melhor lugar para estar e saber das coisas eram as tabernas, viajantes e mensageiros traziam notícias de todo lugar. Grandes conflitos começaram e terminaram dentro de tabernas. Chega a ser até curioso como esse ambiente está tão claro ainda hoje em nossa cultura, às vezes se fecharmos os olhos e tivermos um tantinho de imaginação conseguimos até ouvir o barulho dos trovadores e seus alaúdes, do cheiro de pão e cerveja no ar. O bar sempre parece ter tido esta função social, aglomerar pessoas de diversos lugares, com histórias completamente diferentes e fazê-las interagir de algum modo, seja um saloon no oeste americano no século 19, um pub Inglês ou um bar em qualquer parte do mundo.
Alguns bares perderam sua função de hospedar pessoas, entretanto ainda podemos ver excelentes hotéis com bares bem localizados e bem frequentados, mas seja lá onde você decida beber, sempre vai ver os velhos semblantes cansados da batalha, felizes com grandes conquistas, alguém bebendo de coração partido ou novos relacionamentos surgindo na mesa ao lado, grandes amizades nascendo, velhos amigos se reencontrando, pessoas deprimidas ou revigoradas. Em qualquer tempo da história, em qualquer bar do mundo, este lugar sempre será como aquela grande mãe da qual corremos para contar das nossas vitórias ou simplesmente lamber nossas feridas. Provavelmente por este motivo sejamos tão bairristas com eles.