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Destino cervejeiro: O longo sonho da visita ao Staminee de Garre

Na edição passada terminei falando sobre o místico Staminee de Garre, em Bruges. Com uma carta de mais de 100 rótulos e famoso por ter uma deliciosa Tripel que só é servida lá dentro, esse café, como eles gostam de ser chamados, é parada oficial para os amantes da cultura cervejeira.

Minha história com o de Garre começou em 2015, na minha primeira viagem à Bélgica. Naquela viagem montamos um itinerário que mesclava pontos turísticos, bares, igrejas, edifícios históricos, mosteiros trapistas e cervejarias, um roteiro de viagem que recomendo do fundo do meu coração cervejeiro. Meses antes de embarcar, pesquisamos muito sobre todos os lugares que visitaríamos, tomando conhecimento das condições de visita, principalmente dos dias e horários de funcionamento. No site do Staminee de Garre há, até hoje, um aviso informando sobre suas férias anuais: ocorrem sempre no período de 24/06 a 07/07. Havíamos programado nossa estadia em Bruges de 20 a 22/06. Ufa, por pouco!

O dia de realizar um sonho

Chegado o grande dia, 22 de junho de 2015, passei o dia animado para finalmente conseguir provar uma das melhores Tripel do mundo. Para chegar no Staminee de Garre é preciso se embrenhar pelos agradáveis becos da cidade. Já era oito horas da noite quando entramos no beco que leva o mesmo nome do bar. Avistei a porta de entrada que, se você não estiver atento e já estiver noite, passa despercebida pela maioria. Estava fechada, com um papel escrito em flamengo (espécie de dialeto derivado do holandês): Gesloten op 22/06 – fechado em 22/06. Era nossa última noite na cidade. O desânimo só não foi maior porque já havia visitado várias cervejarias e mosteiros e ainda tinha mais pela frente. Mesmo assim, fiquei o resto da viagem imaginando como seria o café com sua tão bem falada cerveja.

Foram quase três anos de espera e em março de 2018 voltamos a Bruges. Dessa vez eles não escapariam do casal Indiana Jones da cerveja. E foi ainda mais completo. Após uma inesquecível visita à fábrica da Delirium, precedida da visita ao mosteiro da Zundert, chegamos em Bruges. Fizemos o check-in mais rápido da vida no hotel e corremos para o beco. Lá estava a porta aberta. O dia não podia terminar melhor!

Staminee de Garre

O pequeno prédio antigo nos convidava. Entramos. Apesar das ruas vazias de uma terça-feira muito fria, o bar estava cheio e animado, com turistas do mundo todo. Parecia um misto de pub e estalagem, dessas que vemos nos filmes de época. Fomos ao segundo andar e pegamos uma mesa ao lado do bar. Apesar da vasta carta de cervejas, realizei o desejo guardado, literalmente, durante anos: Tripel da casa e porção de queijos e embutidos. Enquanto aguardávamos, aproveitamos para apreciar o ambiente. Tudo com muita madeira, paredes com tijolos expostos e mesas que lembram um restaurante, embora houvesse um aviso de que não servem jantar.

A degustação que não poderia faltar

Staminee de Garre

Assim como acontece em toda a Bélgica, a cerveja foi servida na taça que é somente dela. A Tripel Van de Garre tem uma harmonia sem igual entre o dulçor, o final levemente amargo e seus 11% de graduação alcoólica. A espuma estava linda e eterna: durou até o último gole! Em conversa com o garçom que nos atendeu, descobrimos que é produzida na Brouwerij Van Steenberge, a mesma cervejaria que produz os rótulos como Piraat (Belgian Golden Strong Ale – 10,5%) e Gulden Draak (Belgian Dark Strong Ale – 10,5%), o que dá uma bela noção da qualidade da cerveja. A experiência ficou ainda melhor com a harmonização da Van de Garre com a tábua de frios, também clássica da casa, que acompanhava uma mostarda deliciosa.

Staminee de Garre

Após algumas taças, deixamos o café com sentimento de sonho realizado e seguimos a pé para o hotel, contemplando o que há de melhor na “Veneza belga”: seu clima frio, as ruas estreitas e medievais, os canais e a arquitetura que te faz viajar no tempo. E assim nos despedimos de Bruges, a cidade que sempre deixa saudades.

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Escrito por Enzo Molinari

Administrador de empresas e amante da cultura cervejeira. Homebrewer, beer sommelier e sócio-cervejeiro da Fanky Folks