Enzo Molinari
Bruges. Não importa qual o seu estilo de vida, nem se você é cervejeiro, se está sozinho, em casal ou em amigos, tampouco se está um calor de matar ou um frio congelante: você vai curtir muito cada segundo nessa cidade.
Ao contrário do que trata o filme “Na Mira do Chefe”, Bruges é uma cidade absolutamente encantadora em todos os sentidos. Também conhecida como “Veneza do Norte”, é cortada por diversos canais e uma das cidades medievais mais bonitas e conservadas do mundo – seu centro histórico é considerado patrimônio da humanidade desde 2000.
E é às margens de um dos canais que está a cervejaria Bourgogne des Flandres, responsável por uma belíssima Flanders Red Ale que leva o mesmo nome da cervejaria. A cervejaria foi criada em 1825 em Bruges, mas a família já produzia cerveja desde 1765 em sua fazenda em Loppem, um vilarejo próximo.
Em 1957, a marca não resistiu à invasão das Lagers alemãs e às duas Guerras Mundiais e fechou suas portas, voltando a produzir somente em 1985 na fábrica da Timmermans. Quase 60 anos depois, em 2015 a cervejaria retorna ao centro de Bruges fabricando três rótulos sensacionais. E lá estava eu para degustar esses néctares belgas direto da fonte.
Monopolizando o mestre cervejeiro
A visitação é um pouco diferente dos tours convencionais, pois não há uma pessoa guiando a visitação. Na recepção recebemos um audioguia que nos acompanhou durante todo o tour. Apesar disso, mal começamos a visitação e fui surpreendido pelo mestre cervejeiro andando e conversando com os visitantes. Claro que monopolizei sua atenção com um metralhadora de perguntas cervejeiras. Passado o momento tietagem, iniciei o tour propriamente dito.
A visita é cheia de curiosidades do mundo cervejeiro e bem interativa. A cervejaria não é grande e mais parece uma casa antiga de três andares. Então, a cada cômodo que você entra, uma surpresa diferente aparece. Há uma parte muito interessante com explicações sobre os principais ingredientes da cerveja – água, malte, lúpulo e levedura.
Nesta sala, provei todos os maltes e cheirei todos os lúpulos. Só faltou comer levedura. Na saída deste ambiente, ainda tive a oportunidade de provar o mosto cervejeiro do dia, recém chegado da brassagem e antes de ir à fermentação. Lógico que provei e lógico que estava absurdamente doce.
Na sala seguinte haviam diversos equipamentos antigos de fabricação, uma verdadeira máquina do tempo cervejeiro. Impressionante como, antigamente, toda cervejaria era realmente artesanal. No meio do tour passamos por um terraço, de onde vimos Bruges do alto, iluminada pelo céu de brigadeiro típico dos dias frios europeus.
E onde deveria ser o final do tour, havia uma sala com diversos equipamentos eletrônicos interativos do mundo cervejeiro, inclusive um que simulava o serviço de cerveja direto do tap. Só deixei a brincadeira quando acertei o serviço.
Hora de degustar uma Bourgogne des Flandres
Como a visita era autoguiada, fiquei indo e vindo dos diversos cômodos desta casa cervejeira. Não vi o tempo passar. O que me fez terminar foi lembrar que ao final teríamos a degustação no taproom. O ambiente é moderno e aconchegante, às margens do principal canal de Bruges.
Não aguentei a ansiedade e iniciei o tasting com o carro chefe da casa: Bourgogne des Flandres, uma cerveja típica daquela região. A bebida é um blend de uma cerveja jovem produzida por eles e uma Lambic maturada por pelo menos 12 meses em barril que é fabricada pela Timmermans. O resultado é uma cerveja ácida de baixa potência alcoólica (5%) e alta complexidade de sabor e aroma.
Na sequência, enquanto aguardávamos os últimos pratos antes da cozinha fechar, degustamos a Blonden Os, uma Belgian Blonde Ale de 6,5% de teor alcoólico que, segundo a casa, é uma “Flemish Blonde Ale”. Durante a refeição, degustamos a Bruinen Os, uma Belgian Dark Strong Ale de 8% de ABV, que a cervejaria caracteriza como “Flemish Brown Ale”. Essa cerveja é a parte jovem do blend que dá origem à Bourgogne des Flandres. Sabendo disso, finalizei com outra degustação do carro chefe, às margens do canal da Veneza do Norte.
Findado o tasting, adivinha pra onde fui? Lojinha, é claro! Lojinha é força de expressão, era praticamente um shopping center das cervejas do grupo, que engloba diversos rótulos produzidos pela cervejaria Timmermans. Havia todo tipo de kit, camiseta, taças, canecas, chaveiros e tudo mais que você queira levar pra casa.
Me contive com apenas três taças e as duas Timmermans Kriek Lambicus que ganhamos por fazer check-in na loja. Não podia sair com muitas compras, pois diversos cafés e várias ruelas mediáveis nos esperavam. A Veneza do Norte é inesquecível. Até a próxima parada, em Bruges.
