PRIMEIRO NOS SURRUPIARAM A TAÇA JULES RIMET. DEPOIS, A VIDA NOS TOMA DE ASSALTO O CAPITÃO QUE CANONIZOU NOSSA TACINHA.
Já perdemos outros campeões antes. E todos nos doeram na alma. Mas esse foi diferente.
Porque Bellini não foi só um jogador extraordinário, lendário beque de vigor físico exuberante, contumaz cabeceador. Foi, antes e acima de tudo, um marco indelével na história do Futebol.
Foi dele a ideia primeira de levantar a taça na hora da comemoração. Tomado por uma humildade arrebatadora, o eterno capitão quis oferecer o troféu ao mundo todo, dedicar aos arquibaldos na Suécia a graça tenra da tacinha de ouro. E quis também, orgulhoso, mostrar aos fotógrafos do mundo todo o espólio da sua guerra.
Aquele era o primeiro título do Brasil. E podemos dizer, sem grande temor, que era também o primeiro título da história do futebol – nenhum dos campeões anteriores tomou o cuidado capital de erguer o troféu acima da cabeça e, assim, numa distração tétrica, esqueceram de legitimar suas conquistas com o gesto essencial.
Tiremos, portanto, cada estrela bordada numa camisa antes de 1958. Perdoemos, de uma vez por todas, o nosso Barbosa, visto que o maracanazo, aquele chute medonho de Ghiggia, não nos tirou rigorosamente nada.
A graça suprema, o sumo instante do futebol, a ação que autentica uma conquista nasceu só depois, na Suécia, naquele 29 de junho de 1958.
E de lá para cá, todo capitão do mundo ergue suas taças não só para celebrar um título, mas para brindar publicamente o homem que inventou o maior momento do futebol.
O teu gesto, Bellini, vale mais que o ouro da Jules Rimet.
*Dia 20 de março fez 3 anos que perdemos Hilderaldo Luís Bellini, o capitão da nossa primeira Copa do Mundo. E apesar da tristeza da perda, podemos enxergar a sua morte por um viés otimista: falecendo 3 meses antes da Copa de 2014, Bellini não precisou ver o 7 a 1 – morreu vendo a sua camisa ainda imaculada.